Imagem: "Caraminholas" Autoria: Teka Bustamante - Técnica: Aquarela e nankim

Este é o espaço “Caraminholas de uma Envelhescente”!

Aqui partilho alguns pensamentos através de poemas, contos e histórias, de minha autoria e de outros escritores e poetas, que abordam temas como saudade, perdas, medo, solidão, mas também conquistas, amores, aventuras, família… Enfim, coisas da vida!

Toda  as quartas-feiras, às 18 horas, temos um novo texto.

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Boa escuta!

Contos & Poemas

(Clique no título que ele abre e fecha)

Um dia uma mulher sentou-se debaixo de uma frondosa árvore.

Desanimada, recostou-se no seu tronco corpulento, colocando-se a pensar. Olhou a imensidão do céu e o azul estonteante tentou colorir seu coração. Procurou nuvens, mas não havia uma sequer. Lembrou-se que era o mês de maio e justificou-se.

Observou os galhos e as folhas da árvore, encantou-se com a quantidade e a diversidade das nuances esverdeadas, que pareciam disputar com o céu o troféu da beleza maior! Enxergou o além e encontrou o Universo.

Respirou fundo, tentou relaxar, pensou desanimada para dentro de seu desconforto. Sentiu-se pequena como um grão de areia. Perdida, desviou seu olhar para perto de si. 

Se deu conta de outros tons esverdeados na grama macia, da terra empoeirada e dormente sobre seu corpo recostado, e conscientizou-se do micro mundo. Encontrou uma formiga carregando um pedacinho de planta, e outras… e as acompanhou por um tempo. 

Seu olhar esgueirou-se para uma pedrinha, parada, será há quanto tempo? pensou.   Sentiu vergonha.  Tão insignificante era aquela pedra! Poderia não estar ali e ninguém, nunca, daria falta dela. Talvez, alguma criança quando estivesse brincando de catar pedrinhas. Que importa…? Apenas, a pobre mulher sentia-se tão insignificante quanto o que pensava daquela pedra. 

A mulher estava triste. Seu coração moído, apertado. Sentia-se decepcionada, enfraquecida, não era angústia, não era depressão. Não sabia, ao certo, descrever o que sentia, mas sabia que não se sentia em paz. E ali ela ficou, melancólica, olhando o campo aberto, sem nada ao redor, debaixo da única árvore, deitada sobre os exibidos tons verdes da grama e sob o pomposo céu azul. Sentindo-se imóvel, improdutiva, desorientada e sem rumo, vazia de sentidos, cheia de histórias, mas sem saber o que fazer com elas.

Seu coração palpitava, sentia o ar entrando e saindo irriquieto dentro de si, histórias lhes sopravam aos ouvidos e imagens surgiam em sua testa na velocidade da luz!  Então, num longo suspiro, pegou um papel em branco, um lápis de ponta fina e, sem muito pensar, começou a rabiscar.

Palavras solitárias se formavam na ponta do lápis e se juntavam a outras e todas procuravam se reconhecer no todo de cada momento. As imagens da testa tentavam se projetar no oceano branco, em busca de se espelharem e vislumbrarem o rumo, do emaranhado de rabiscos que insistiam em dançar, empretecidos. Lágrimas brotavam e despencavam no papel, desenhando borrões que insistiam em atormentar a desordem dos rabiscos. As mãos persistiam em movimentos orquestrados e sincronizados, de sustentação do oceano branco, à esquerda, e da dança frenética da batuta escrevente, à direita. A mulher desprendeu-se de si.

A tarde caiu, o brilho do céu encolheu, o dia sumiu, a terra ficou fria, mais formigas apareceram formando uma trilha enorme, e a mulher que tanto escreveu, juntou um emaranhado de oceanos navegados, agora nem tão brancos assim, e levantou-se procurando pelo dia. Ele se fora sorrateiro para que ela pudesse surpreender-se. E ela sentiu que não havia perdido o dia e, sim, ganho dele de presente uma chance de transformar sua tristeza em sua escrita. 

Olhou ao redor e reencontrou aquela pedra solitária. Lembrou-se de como estava ao chegar naquele lugar e pensou que ela, a pedra, afinal, não era tão insignificante assim, pois ela, a mulher, estava passando o seu tempo pensando naquela pedra. E sentiu que tudo fez sentido!

Pensou, satisfeita consigo mesma, que talvez um dia, para alguém que, como ela, sentar-se debaixo de uma árvore, sentindo o que ela sentia, estas palavras rabiscadas, escritas sofridas e navegadas, pudessem ajudar a abreviar uma extensão de sentimentos confusos, indefinidos, colocando no lugar da angústia e da tristeza, um suspiro de alívio… de identificação!  

É… às vezes a gente tá assim…

Assim… e pronto!

E não sabe explicar por quê.

 

Às vezes, só começando um novo dia

pra gente se sentir melhor.

Às vezes, nem começando um novo dia

a gente se sente melhor.

 

Às vezes, só começando um novo mês

ou um novo ano

a gente se sente melhor.

Mas, às vezes, não é uma questão

de começar o tempo.

É uma questão de começar a ação.

Agir e fazer!

 

Mudar!

 

Mas, às vezes, não é uma questão de ação.

É uma questão de aceitação!

Aceitar que se está assim… e pronto.

Enquanto a vontade de ficar assim não passar.

 

É… eu hoje estou assim…

assim… e pronto!

Sentada sobre as rochas
à beira do mar
sinto os respingos
da água salgada,
molhada de verde,
branca de espuma.

A brisa, maresia,
transparente,
balança meu corpo,
bate em meus cabelos,
que castigam meu rosto
e eleva meu ser
a flutuar no vento
ao som das ondas
que se chocam enraivecidas
com o cinza petrificado.

E eu, como uma gaivota,
voo sobre a imensidão
do verde escuro
planando com o vento forte
sob o tapete azul do céu.

A sensação de liberdade
é um prazer imensurável
sem tamanho, nem cor,
sem peso e sem limite.

O poder de ser tudo,
de ver o inatingível,
de saber o desconhecido.

O voo é livre,
é solto,
sem tempo e sem documento.

O livre sou eu
que pairo sobre minha perplexidade
e repouso sobre minha grandeza.

O voo é um sonho
sonho de um pensamento acordado
que retorna, e pousa,
ao som das águas incansáveis,
e constata, no regresso,
a limitação de um corpo
e a infinidade da mente.

E torno a sentir
a água salgada
molhada de verde
mas, o branco da espuma
se desfaz em minhas mãos
assim como meu sonho acordado
se desfez no regresso
de um pensamento acordado.

Prisão é um estado de espírito!
É um estar aqui
e não estar em lugar nenhum…
É um estar assim
e não estar nada…
É um estar agora
e não estar em tempo algum…

Prisão é estar presa a algo
e, pior do que a própria prisão,
é não saber a quê se está presa.

A prisão não tem tempo,
nem idade,
não tem sexo,
não tem nexo.
A prisão que se faz
se faz dentro de si
Não tem forma
Não tem fato
Não é um ato!

A prisão acontece,
se sente,
se prende,
se impede de coisas,
sentimentos e sonhos.

A prisão é a morte!
A anulação.
A prisão é o abismo,
é o falso, o imprevisto.
Corrompe, destrói
constrói o nada,
no nada.

É o vazio,
não é nem a sombra…
é nada!
A prisão não é nem
um estado de espírito.
A prisão é o nada
…no espírito.

Um ser um tanto estranho
Igual a tantos outros
E diferente apenas num ponto:
É único.

No contexto de um ser
humano e racional;
Na existência de um ser
vivo e presente;

Na força de um ser
inseguro e incompleto;
No todo de um ser
incapaz de o ser.

Encontra-se o comum
encontra-se o herói
Encontra-se o gênio
Mas, encontra-se, também,
o unitário, no infinito.

Como único, mas comum, teme
Vive, sim
mas, vive?
Como? Por quê? Para que?

Digamos que este ser
vive, a partir de agora,
à procura da resposta.
Não submissa à ela
mas, em função de achá-la.

A cada ato, palavra ou expressão
faz um ponto de interrogação
e, no próximo instante,
sorri um ponto de exclamação!

Um ser inadaptado, ou inadaptável
Preocupado, sofrido, risonho
Agitado, angustiado, medroso…
Interrogativo.

Digamos, um ser normal?
Apenas…
um ser eternamente criança!

Tem gente que chega

Tem gente que vai

Tem gente que anda e que cai

Gente que vira, respira

aponta, desponta,

…desaponta.


Gente que entra e que sai

Gente velha, gente rica

Gente que sofre e gente que ri

Gente que é gente,

presente,

talvez, também, ausente.


Gente que transcende

o aqui e agora

Gente que vive,

sobrevive

apesar do riso, 

apesar do choro

apesar do lixo e do luxo

apesar da fome, da sombra

apesar da espera, da guerra

apesar da sorte…

Gente que é gente

até a morte! 


Gente que carregam

Malas que carregam

Coisas que carregam 

Significados que encerram.


Gente que procura

E gente que não se encontra.

Gente que olha, mas não vê.


Gente que dorme

e se esquece da dor

Gente que acorda

e se esquece de sonhar.


Gente partida, perdida,

sofrida, curtida

Gente que fala e se cala

Gente tão diferente…


Aquele homem caminhava sempre de cabeça baixa. Por tristeza, não. Por atenção. Era um homem à procura. À procura de tudo o que os outros deixassem cair inadvertidamente, uma moeda, uma conta de colar, um botão de madrepérola, uma chave, a fivela de um sapato, um brinco frouxo, um anel largo demais.

Recolhia, e ia pondo nos bolsos. Tão fundos e pesados, que pareciam ancorá-lo à terra. Tão inchados, que davam contornos de gordo à sua magra silhueta.

Silencioso e discreto, sem nunca encarar quem quer que fosse, os olhos sempre voltados para o chão, o homem passava pelas ruas despercebido, como se invisível. Cruzasse duas ou três vezes diante da padaria, não se lembraria o padeiro de tê-lo visto, nem lhe endereçaria a palavra. Sequer ladravam os cães, quando se aproximava das casas.

Mas aquele homem que não era visto, via longe. Entre as pedras do calçamento, as rodas das carroças, os cascos dos cavalos e os pés das pessoas que passavam indiferentes, ele era capaz de catar dois elos de uma correntinha partida, sorrindo secreto como se tivesse colhido uma fruta.

À noite, no cômodo que era toda a sua moradia, revirava os bolsos sobre a mesa e, debruçado sobre seu tesouro espalhado, colhia com a ponta dos dedos uma ou outra mínima coisa, para que à luz da vela ganhasse brilho e vida. Com isso, fazia-se companhia. E a cabeça só se punha para trás quando, afinal, a deitava no travesseiro.

Estava justamente deitando-se, na noite em que bateram à porta. Acendeu a vela. Era um moço.

Teria por acaso encontrado a sua chave? Perguntou. Morava sozinho, não podia voltar para casa sem ela.

Eu… esquivou-se o homem. O senhor, sim, insistiu o moço acrescentando que ele próprio já havia vasculhado as ruas inutilmente.

Mas quem disse… resmungou o homem, segurando a porta com o pé para impedir a entrada do outro.

Foi a velha da esquina que se faz de cega, insistiu o jovem sem empurrar, diz que o senhor enxerga por dois.

O homem abriu a porta.

Entraram. Chaves havia muitas sobre a mesa. Mas não era nenhuma daquelas. O homem então meteu as mãos nos bolsos, remexeu, tirou uma pedrinha vermelha, um prego, três chaves. Eram parecidas, o moço levou as três, devolveria as duas que não fossem suas.

Passados dias bateram à porta. O homem abriu, pensando fosse o moço. Era uma senhora.

Um moço me disse… começou ela. Havia perdido o botão de prata da gola e o moço lhe havia garantido que o homem saberia encontrá-lo. Devolveu as duas chaves do outro. Saiu levando seu botão na palma da mão.

Bateram à porta várias vezes nos dias que se seguiram. Pouco a pouco se espalhava a fama do homem. Pouco a pouco se esvaziava a mesa dos seus haveres.

Soprava um vento quente, giravam folhas no ar, naquele fim de tarde, nem bem outono, em que a mulher veio. Não bateu à porta, encontrou-a aberta. Na soleira, o homem rastreava as juntas dos paralelepípedos. Seu olhar esbarrou na ponta delicada do sapato, na barra da saia. E manteve-se baixo.

Perdi o juízo, murmurou ela com voz abafada, por favor, me ajude.

Assim pela primeira vez, o homem passou a procurar alguma coisa que não sabia como fosse. E para reconhecê-la, caso desse com ela, levava consigo a mulher.

Saíam com a primeira luz. Ele trancando a porta, ela já a esperá-lo na rua. E sem levantar a cabeça – não fosse passar inadvertidamente pelo juízo perdido – o homem começava a percorrer rua após rua.

Mas a mulher não estava afeita a abaixar a cabeça. E andando, o homem percebia de repente que os passos dela já não batiam ao seu lado, que seu som se afastava em outra direção. Então parava, e sem erguer o olhar, deixava-se guiar pelo taque-taque dos saltos, até encontrar à sua frente a ponta delicada dos sapatos e recomeçar, junto deles, a busca.

Taque, taque hoje, taque-taque amanhã, aquela estranha dupla começou a percorrer caminhos que o homem nunca havia trilhado. Quem procura objetos perdidos vai pelas ruas movimentadas, onde as pessoas se esbarram, onde a pressa leva à distração, ruas onde vozes, rinchar de rodas, bater de pés, relinchos e chamados se fundem e ondeiam. Mas a mulher que andava com a cabeça para o alto ia onde pudesse ver árvores e pássaros e largos pedaços de céu, onde houvesse panos estendidos no varal. Aos poucos, mudavam os sons, chegavam ao homem latidos, cacarejar de galinhas.

O olhar que tudo sabia achar não parecia mais tão atento. O que procurar afinal entre fios de grama senão formigas e besouros? Os bolsos pendiam vazios. O homem distraía-se. Um caracol, uma poça d’água prendiam sua atenção, e o vento lhe fazia cócegas. Metia o pé na pegada achada na lama, como se brincasse.

Taque-taque, conduziam-no os pés pequenos dia após dia. Taque-taque crescia aquele som no coração do homem.

Achei! Exclamou afinal. E a mulher sobressaltou-se. Achei! Repetiu ele triunfalmente. Mas não era o que haviam combinado procurar. Na grama, colhida agora entre dois dedos, o homem havia encontrado a primeira violeta da primavera. E quando levantou a cabeça e endireitou o corpo para oferecê-la a ela, o homem soube que ele também acabava de perder o juízo.

A cigarra nasceu no meio de um formigueiro
Ela foi acolhida e cuidada como uma formiga
Ela se sentia estranha
Cantava e a cada canto
Ela sofria
Pois as formigas, que trabalhavam
Não gostavam de sua cantoria
E elas, as formigas
Reclamavam
E queriam que a cigarra,
Assim como elas,
Pegasse no pesado e trabalhasse

A cigarra assim fazia
Mas sentia-se todo dia
Estranha e estranhava as outras formigas
Não estranharem sua condição

A cigarra foi crescendo
E seu canto morrendo
Sua garganta doía
E o canto prendia
E seu coração machucado
Cada vez mais calado
Fazia com que suas canções
Ficassem no fundo guardadas
Para quem sabe um dia…

Um dia essa cigarra
Cansada e muito ferida
Já quase desistindo
De trabalhar para sobreviver
E sobreviver e não viver
Já quase sem ar para falar
Resolveu soltar seu pranto
De dor e de agonia
E com ele soltou seu canto!

Seu canto ecoou
E encontrou o vento
Que faceiro soprou
E levou seu canto
Para todos os cantos!

E a cigarra, então, entendeu
Que não era uma formiga,
Não era como aquelas
com quem convivia
Que tinha asas e canto
E cheia de encanto
Soltou também suas asas
E voou
Voou bem alto e para longe
E cantou
E cantou
E cantou
E não mais voltou

Ao longe,
As formigas trabalham
E escutam seu canto
Que ecoa, encantado
Por todos os cantos da Terra!

Quantas noites na solidão da noite
Fui procurar por mim
E encontrei você
Quantas noites na infinitude da noite
Me senti tão nada quanto o escuro que via
Quantas lágrimas desceram como cachoeiras
E empoçaram meu coração de agonia
Quantas vezes me perguntei por mim
Pra mim
E só encontrei você

Não saiba, não entendia
Mas só via você, a mim
Só tinha você, antes de mim
Só era pra você, depois pra mim
E acho que sempre foi assim
Sempre eu, pra depois
Sempre o antes, depois o mim

E assim, agora, à noite
Mais uma vez, procuro por mim
Não encontrei antes, não encontro agora
Não sei onde estou, o escuro me entristece
Lágrimas continuam descendo como correnteza
E os suspiros vão virando escritas
Insanas, instáveis, incompreendidas

E mais uma noite se (es)vai!

Amor
Do sexo à oração
Da alegria à conquista
Do dar e do receber
Do ver e do ter

Amor não é sentir
É ser – toda extensão
É estar – imbuído
É viver – profundamente
O êxtase da existência
Um momento de infinitude!

Canal de ligação direta com Deus
Com o espaço, com o infinito
Momento de Graça
Sem lógica
De fluido
Além da matéria


Momento meu,
Teu
Seu
Nosso
Único,
Além de todos


De mim, se pudesse,
Arrancaria-o do peito
Para eternamente
Apreciá-lo!

Era uma vez… uma pequena menina que morava numa casa pequena com muitos irmãos. Tinha uma vida simples, sua casa era sempre agitada e o tempo passava rápido. Ela adorava brincar de arte. Adorava desenhar e pintar!

Não tinha muitos recursos, então, lançava mão do que encontrava para inventar a sua arte. O chão de terra do quintal era uma tela, os gravetos perdidos no mato seus pincéis, as pedrinhas ora sozinhas, juntas formavam sua colagem e as cores das flores e plantas viravam suas tintas! E assim, brincava com o tempo, o tempo todo! O tempo era seu tapete voador que a levava por aventuras incríveis e lhe trazia a esperança de novos tempos!

Um dia, na escola, ela fez um desenho de si mesma. E coloriu sua roupa com suas cores prediletas: azul e verde, não à toa as principais cores da mãe Natureza! Ficou muito feliz com sua arte, apesar de não acha-la assim tão bonita. Mas, para sua surpresa, sua mãe adorou! Ela, a menina, nunca entendeu por que sua mãe gostou tanto daquele desenho e, na ocasião, resolveu colocá-lo em uma moldura e pendurá-lo numa das paredes do quarto que era seu e de suas irmãs! E lá ele ficou durante muito tempo.

Para ela, sua obra exposta serviu para lhe dizer, todos os dias, o quanto era amada e admirada. Mesmo assim, tantas vezes duvidava disso. Olhava para o quadro e procurava encontrar o reflexo em si mesma daquilo que sua mãe não conseguia lhe dizer, pois no dia a dia não ouvia esse eco… Sua mãe tinha muitos afazeres e pouco tempo.

Aquele tempo que a levava a passear passou e fez com que o desenho se desbotasse, descolasse da moldura e a moldura que era branca ficou amarelada. O sorriso do desenho perdeu a graça e os olhos pareciam que soltavam lágrimas! Aquela menina perdeu-se nas aventuras do tempo …

Um dia, a menina que se tornou mulher, arrumando as coisas da casa de sua mãe que o tempo envelhecido levou, reencontrou esse quadro e foi perguntar para o tempo por que ele havia deixado aquilo acontecer? Por que havia permitido que seu quadro ficasse tão feio? Por que ele, o tempo, senhor das aventuras, não havia evitado que a menina do desenho ficasse nostálgica, com seus olhos cheios de lágrimas e com um borrão vermelho no lugar de um sorriso?

A menina-mulher não mais reconhecia a sua obra, entristeceu-se quando lembrou de sua mãe e sentiu-se exatamente como no quadro, desbotada e saudosa!

E o tempo, então, disse para a mulher:
– Assim como você não é mais aquela menina, o seu quadro também já não é mais aquele. Volta seu olhar para dentro de você, procura por aquela menina e veja o que encontra.

A mulher ficou zangada com o tempo. Não quis ouvir mais nada! O tempo era muito cruel. Ela, inquieta e irritada, ficou olhando o quadro, procurando por aquela menina, daquele tempo, daquele desenho. O tempo parou. Voltou, passou, parou, voltou, passou… com ele foram minutos, horas, dias e anos! E, de repente, a mulher levantou seus olhos.

Conseguiu desgrudar do quadro como a cola da moldura e olhou ao redor. Procurou o tempo, mas ele já não estava mais lá. Passou por ali, soprou nos meus cabelos e se apressou a seguir em frente. E ela, então, percebeu, que apesar do tempo ter passado, a menina ainda era a mesma do desenho, ainda era a mesma que sorria, desenhava e pintava no chão de terra.

A mulher pegou o quadro, retirou a moldura velha, colocou debaixo do braço e levou para sua casa. Ela fez uma nova moldura, desenhou rabiscos voadores e pintou-os com tintas da natureza! O sorriso do desenho voltou e fez secar as lágrimas que antes escorriam. A mulher, cujos cabelos brancos ela também pintava, voltou a pensar no tempo…

Chamou o tempo de volta para lhe mostrar o que havia consertado, mas ele não respondeu. Continuou olhando para o quadro… Pensou que o tempo pode ser muito cruel! O tempo distancia, castiga, molda, lapida, distorce, enferruja, enruga… Leva para longe coisas e pessoas, modifica imagens e paisagens, provoca dores e perdas, faz envelhecer o corpo e engana a mente, faz doer no peito a saudade e desperta a vontade de correr atrás dele para fazê-lo trazer de volta tudo aquilo que foi um dia! Mas em vão… O tempo não mais voltaria.

Aquela mulher que um dia foi menina cresceu e percebeu também que, por causa daquele tempo, seus cabelos brancos haviam viajado com o tapete voador por muitos castelos de pedra e de areia, conhecido muitas cidades e suas gentes, mergulhado algumas vezes no fundo do mar, vislumbrado o horizonte de cima de penhascos, visitado a magia das histórias por dentro de contos e livros e que tudo isso havia se tornado seu maior tesouro, o que de melhor poderia ter na vida! Um mosaico de cores e imagens passou rápido pela sua alma! O tempo havia lhe sido muito generoso e ainda lhe proporcionava a possibilidade de novas aventuras. Bastaria que ela assim o desejasse.

Resolveu viver o tempo e, enquanto houvesse tempo, até o fim de sua vida, o tempo ainda poderia mudar muitas coisas a sua revelia, para o bem ou para o mal, mas não poderia mais mudar a essência daquilo que ela havia resgatado! Por causa daquele tempo, do tempo que passou, parou, voltou e continuou, e graças ao seu tapete voador, a mulher reencontrou aquela menina do quadro, que adorava desenhar e pintar!

E voltou a ter tempo para sorrir!

Quando partir, quero levar
a lembrança dos sorrisos
dos amigos
A lembrança dos momentos únicos
de alegria
A lembrança das palavras puras
de incentivo
A lembrança dos olhares profundos
de confiança

Quero levar comigo
A sensação dos abraços
Apertados
O calor das peles
Suadas
A vibração dos corpos
Abraçados
O prazer da partilha
do pão,
da palavra
e dos sentimentos.

Quero carregar comigo
O bem que fiz
O bem que recebi
Os sonhos que conquistei
As sensações de satisfação
de cada etapa vencida
O prazer imensurável e indescritível
de cada dor superada,
vencida, aliviada!

Coloco em minha bagagem
Cada minuto vivido
Que me é dado
Para que,
Quando chegar a hora,
Possa levar comigo,
e apenas dentro de mim,
Os resultados daquilo que fiz
Com a oportunidade que me foi dada!

Vivo a viajar
por viagens já muito viajadas
com viajantes, vagantes,
violeiros, vaqueiros.
Viajo por volta
das vezes que vago,
que vento ao vento
e que volto ao vulto
do vigor presente.

Viagem vigente
com amor reluzente
no peito vibrante
do vulgo que sou
eu, viajante rasante.

Viajo por vias
de um pensamento vibrante
que voa vago, vagabundo
com idas e vindas, velejantes
e mergulho no violado mundo
do invisível.

Viajo por vezes
nas vezes que vejo
o viés verdejante
de um mundo vidente,
pela janela viajante.

Vislumbro o volume intenso
de uma verdade volúvel,
sinto uma vergonha insana, humana
vinculada a uma vaidade voraz
que vocifera valores
vulgarmente violados, vilipendiados
que via de vez, vertem das entranhas
e verbalizam o invisível, porém sensível!

A viagem valida a pureza d’alma
Versada no vértice do vivido
E experimentado
O viço vasto vivente na mente
Volta novamente
Ao vulto vago
de uma viajante vazante,
porém volátil!

Viajo…viajando.

Sempre haverá um preço!
Se falar ou se calar
Se fizer ou se omitir
Se lutar ou consentir
Se brigar ou aceitar
Sempre haverá uma conta

Entre o ser ou deixar de ser
Entre o saber e o sofrer
Conformismo e aquiescência,
Sapiência?
Sempre haverá uma escolha
E um preço a dispender

A conta é alta onde quer que seja
Haverá uma dor, um temor
Haverá um dano, insano
Haverá medo…
nenhum aconchego!

Não importa o quão junto está
Sua trajetória é somente sua, nua
Os riscos são seus, somente seus
Você está sempre sozinho
A escolha é única,
Assim como você!

A vida é cheia de caminhos
E sempre haverá uma escolha
É difícil decidir pois,
em cada uma,
Há sempre um preço a pagar
Seja ele qual for

O tormento do medo, da escolha
Já é, por si só, uma grande dor!
Os caminhos ramificados
As diversas possibilidades
São com teias movediças
Que enganam e engolem
Nossa inocência e ingerência!

Inóspita é nossa condição
Nas entranhas de uma busca,
Na busca por uma escolha,
Até a decisão (in)certa
Não há luz, só escuridão
Não há certeza, não há paz!

Felizes os que não sofrem ao fazer escolhas!
Felizes os que sabem escolher qual conta pagar!
Felizes os que não pagam uma conta por suas escolhas!
Felizes os virtuosos e assertivos!
Deles é o reino da Paz!

No ventre de uma mulher grávida dois gêmeos dialogam:
– Você acredita em vida após o parto?
– Claro! Há de haver algo após o nascimento. Talvez estejamos aqui principalmente porque nós precisamos nos preparar para o que seremos mais tarde.
– Bobagem, não há vida após o nascimento. Afinal como seria essa vida?
– Eu não sei exatamente, mas certamente haverá mais luz do que aqui. Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comeremos com a nossa boca.
– Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Além disso, andar não faz sentido pois o cordão umbilical é muito curto.
– Sinto que há algo mais. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui.
– Mas ninguém nunca voltou de lá. O parto apenas encerra a vida. E afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na escuridão.
– Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamãe, e ela cuidará de nós.
– Mamãe? Você acredita em mamãe? Se ela existe, onde ela está?
– Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos. Sem ela não existiríamos.
– Eu não acredito! Nunca vi nenhuma mamãe, por isso é claro que ela não existe.
– Bem, mas às vezes quando estamos em silêncio, posso ouvi-la cantando, ou senti-la afagando nosso mundo. Eu penso que após o parto, a vida real nos espera; e, no momento, estamos nos preparando para ela.

 

Talvez eu venha a envelhecer rápido demais. Mas lutarei para que cada dia tenha valido a pena.
Talvez eu sofra inúmeras desilusões no decorrer de minha vida. Mas farei que elas percam a importância diante dos gestos de amor que encontrei.
Talvez eu não tenha forças para realizar todos os meus ideais. Mas jamais irei me considerar um derrotado.
Talvez em algum instante eu sofra uma terrível queda. Mas não ficarei por muito tempo olhando para o chão.
Talvez um dia o sol deixe de brilhar. Mas então irei me banhar na chuva.
Talvez um dia eu sofra alguma injustiça. Mas jamais irei assumir o papel de vítima.

Talvez eu tenha que enfrentar alguns inimigos. Mas terei humildade para aceitar as mãos que se estenderão em minha direção.
Talvez numa dessas noites frias, eu derrame muitas lágrimas. Mas não terei vergonha por esse gesto.
Talvez eu seja enganado inúmeras vezes. Mas não deixarei de acreditar que em algum lugar alguém merece a minha confiança.
Talvez com o tempo eu perceba que cometi grandes erros. Mas não desistirei de continuar trilhando meu caminho.
Talvez com o decorrer dos anos eu perca grandes amizades. Mas irei aprender que aqueles que realmente são meus verdadeiros amigos nunca estarão perdidos.

Talvez algumas pessoas queiram o meu mal. Mas irei continuar plantando a semente da fraternidade por onde passar.
Talvez eu fique triste ao concluir que não consigo seguir o ritmo da música. Mas então, farei que a música siga o compasso dos meus passos.
Talvez eu nunca consiga enxergar um arco-íris. Mas aprenderei a desenhar um, nem que seja dentro do meu coração.
Talvez hoje eu me sinta fraco. Mas amanhã irei recomeçar, nem que seja de uma maneira diferente.
Talvez eu não aprenda todas as lições necessárias. Mas terei a consciência que os verdadeiros ensinamentos já estão gravados em minha alma.

Talvez eu me deprima por não ser capaz de saber a letra daquela música. Mas ficarei feliz com as outras capacidades que possuo.
Talvez eu não tenha motivos para grandes comemorações. Mas não deixarei de me alegrar com as pequenas conquistas.
Talvez a vontade de abandonar tudo torne-se a minha companheira. Mas ao invés de fugir, irei correr atrás do que almejo.

Talvez eu não seja exatamente quem gostaria de ser. Mas passarei a admirar quem sou. Porque no final saberei que, mesmo com incontáveis dúvidas, eu sou capaz de construir uma vida melhor.
E se ainda não me convenci disso, é porque como diz aquele ditado: “ainda não chegou o fim”. Porque no final não haverá nenhum “talvez” e sim a certeza de que a minha vida valeu a pena e eu fiz o melhor que podia.

 

Me vejo naquele lugar
Da onde parece que nunca saí
Menina!
Tanto tempo e tanta angústia viva
Os olhos que ora viam
Hoje veem através da memória
Os ouvidos que ora escutavam
Hoje parecem surdos
Mas o coração que batia forte
Hoje ainda dispara!

Reunidos todos tão diferentes
À procura de uma fórmula mágica
De nos tornarmos apenas um
Uma voz
Um modo de ser
Uma única comunhão
Um modelo, um padrão
E muitas regras!

Mas não era e não tinha como ser!

Cada um na sua universalidade
Partilhava de um único universo
Tentando sobreviver do jeito possível
Aos turbilhões de imposições e regras

As regras metiam medo
Segredo!
As imposições vinham do sagrado
Desagrado!
O desafio era constante
Militante!
O perigo era a todo instante
Apavorante!
E, então, o desejo de volta,
Revolta!

E entre regras e submissões
E entre aceites e revoltas
E entre choros e raivas
E entre superações e decepções

Entre erros e acertos
Entre dramas e medos
Entre amores e desamores
Entre todos e todos os dias
E desde sempre e para sempre
Entendo hoje que o medo…
O medo se impôs como medida
Se impôs como alerta
Dos limites que não deveriam
Ser ultrapassados e negligenciados
O medo foi o alerta vermelho
Do perigo de não ser amada
Rejeitada!

O medo foi a alavanca
Que mudava o rumo do rumo
O medo foi o fiel sentinela
Que alertava do perigo, inimigo
O medo foi o tutor de mim mesma
Que criei o medo para me dar um prumo
As escolhas foram minhas
E não do meu medo!

O medo era forte e imponente
E ainda o é!
Me desafia o tempo todo
Maroto!
Não descansa e não me deixa descansar
Me provoca e me sufoca
E de tanto insistir, persistir
Me faz entender que o medo…
O medo é de não ser amada
Abandonada!

E lembro, então, sensibilizada
Da lembrança de minha mãe
Que, também, assustada
E fragilizada
Já idosa e ainda com medo
Assim se sentia na vida
Menina!
E, próximo de sua morte, dizia:
– “Ela não me amava!”

Para!
Para de reclamar,
De lamentar…
O sangue tá correndo em suas veias
A vida tá correndo atrás do tempo
E o tempo tá passando à sua frente!

Enquanto você reclama
Sua pele se enruga
Seus cabelos caem
Seus músculos se entorpecem
Sua mente se esquece

Enquanto você lamenta
Seus dentes enfraquecem
Seus olhos se entristecem
Suas mãos desistem
Seu sangue esfria

Enquanto você não atenta
Sua alegria adormece
Seu coração esmorece
Seu amor congela
E sua vida se esvai!

Para sempre!
E não há mais do que reclamar,
Ou lamentar…

Para!
Para de reclamar,
Leve a vida mais leve!

Ter fé é acreditar q td vai dar certo
Apesar de tudo
Ter fé é saber q a vida vai continuar
Apesar da falta de ar
Ter fé é andar sobre uma ponte
Mesmo sendo essa ponte invisível
Ter fé é se entregar ao sono
Mesmo duvidando do acordar amanhã
Ter fé é dar tempo ao tempo
E esperar com que o tempo responda

Ter fé é fechar os olhos
E de olhos fechados ver vc por dentro
Ter fé é olhar pro céu e encontrar o infinito
Olhar pro infinito e entender a história da humanidade

Ter fé é saber q se é único
Mas igual a bilhões de outros
Ter fé é duvidar
Mas acreditar mesmo assim
Ter fé é não ter explicação para nada
Mas saber acolher o q vem

Não se tem fé à toa
Nem à toa encontrei a minha fé!
Foi no passo a passo da minha caminhada
Em cada curva, buraco, desvio ou travessia
Que ela foi se tornando a minha sombra
E a minha guia!

Numa longínqua cidade do Ocidente, vivia uma jovem chamada Fátima, filha de um próspero fiandeiro.

Um dia seu pai lhe disse:

– Filha, faremos uma viagem, pois tenho negócios a fazer. Venha junto, pois talvez você encontre algum jovem que te agrade, em boa posição, com quem possas então te casar.

Iniciaram então uma viagem por mar, indo de reino em reino. O pai cuidando dos negócios, Fátima, sonhando com o homem com quem iria se casar.

Mas um dia, quando estavam em alto mar, foram atingidos por uma terrível tempestade. O navio naufragou. Fátima foi arrastada pelas ondas até uma praia desconhecida, única sobrevivente do naufrágio.

Recordava-se pouco de sua vida naquele momento, pois a experiência do naufrágio e o fato de haver ficado exposta à inclemência do mar haviam-na deixado exausta e aturdida.

Enquanto vagava pela praia, uma família de tecelões a encontrou. Embora fossem pobres, levaram-na para sua humilde casa e ensinaram-lhe seu trabalho.

Assim, Fátima iniciou nova vida. Passado algum tempo, e com o carinho recebido daquela gente, voltou a ser feliz, reconciliada com sua sorte.

Porém um dia, quando estava na praia, um bando de mercadores de escravos desembarcou e levou-a, junto com outros cativos. Levaram-na para um reino, na direção do oriente e venderam-na como escrava.

No mercado de escravos, um homem de nobre coração, apiedando-se daquela triste jovem, resolveu comprá-la. Levou Fátima para casa, pretendendo dar-lhe um trabalho leve, pensando que ela poderia fazer companhia para sua esposa.

Pouco tempo estava Fátima naquela casa, quando o patrão, que era dono de uma serraria, teve uma grande perda nos negócios. Não poderia mais pagar seus empregados, e assim a própria esposa e Fátima (que era grata por seu resgate do mercado de escravos), passaram a trabalhar na fabricação de mastros.

Aos poucos, os negócios da serraria foram se recuperando e Fátima passou a ser o braço direito do patrão, sua ajudante de confiança.

Um dia, ele lhe disse que queria que ela levasse um carregamento de mastros a uma ilha distante. Eram clientes novos e o patrão confiava a ela o negócio.

Fátima partiu. Quis o destino que novamente seu navio naufragasse, quando estavam perto da costa da China. Outra vez, Fátima era jogada como náufraga em um país desconhecido.

Novamente, houve quem a ajudasse, e não foi difícil encontrar um intérprete para ela, que com suas viagens, já compreendia bem mais do que sua língua materna.

Por aqueles tempos, reinava na China um jovem imperador. Curioso das coisas do mundo, gostava de ouvir histórias dos viajantes que lhe contavam de terras distantes e países exóticos. E havia ficado encantado com as descrições que lhe fizeram, certa vez, alguns desses viajantes, de países do deserto, onde os reis, chamados sultões, tinham grandes e confortáveis tendas para suas próprias viagens.

Acontece que, naqueles tempos, não havia ninguém na China que soubesse fazer tais tendas, e o imperador dizia a todos quantos pudessem ouvir que recompensaria regiamente quem as fizesse.

Quando Fátima soube do fato, refletiu. E disse que poderia satisfazer o desejo do imperador. Foi levada até ele, que ficou muito impressionado com a moça.

Como as cordas chinesas não se prestavam, Fátima usou sua memória de filha de fiandeiro, e fez cordas apropriadas.

Os tecidos chineses, ou eram da mais pura ceda, ou panos resistentes, mas muito duros. Lembrou da sua experiência de tecelã, e organizou a produção de tecidos adequados.

Também não havia estacas compridas o suficiente. Lembrou então do que aprendera com o fabricante de mastros.

E assim, Fátima tinha, junto com a lembrança de todas as tendas que havia visto em suas viagens, todo o necessário para construir uma bela tenda.

O jovem imperador, maravilhado, ofereceu à Fátima, como recompensa, a metade do seu grande império, e o seu amor, pois se casou com ela. E juntos, viveram felizes até o fim dos seus dias.

E foi só depois de todas essas aventuras que Fátima pôde compreender algo fundamental: As experiências aparentemente desagradáveis do passado acabaram constituindo partes essenciais da sua felicidade.

Queridos caraminholantes,

Nada será como antes!
Tudo está mudando de uma forma avassaladora.

Nem mesmo o Natal será como conhecemos dos tempos passados!
As festas estão restritas às telas de computadores, tvs e smartfones.
Os abraços, beijos, carinhos, afetos, precisarão esperar o passar do tempo, para tomarem formas, novamente.
A não ser em pequenos grupos familiares, que é o mais prudente a ser feito.

Os presentes físicos? Sim, estes poderão se fazer presentes. O mundo virtual está em grande atividade! Estes, sempre, estão presentes e, quantas vezes, até tomam a frente dos abraços e carinhos!

Portanto, nesse Natal, lembrem-se de como era, de como foram os anteriores. Vejam o que ficou na memória, nas sensações, nos afetos impressos nos corações!

Percebam o que faltou, o que não estava presente e se fez presente pela ausência!

O que poderia ter sido dito, demonstrado, transformado!

O que poderia ter sido diferente, o que você faria diferente!

Daqui a um ano, talvez possamos olhar para este e dizer:
– “Ano passado, meu/nosso Natal foi lindo, maravilhoso, pois tínhamos o que era importante e suficiente!”

E para aqueles que infelizmente perderam entes queridos, aproveitem a oportunidade para lhes fazer uma homenagem, brindando à vida de quem aqui está!
Pois esta vida continua, forte, vibrante e corrida!

Então, sugiro que vivam o verdadeiro espírito do Natal, a Confraternização, a Fraternidade do Amor, a restauração do Respeito a si mesmo e ao próximo!

E procurem sentir a Felicidade pela Vida, que está dentro de cada um, independente dos problemas do lado de fora.

Pegando a onda dos cabelos ao vento da semana passada, pelo menos no Natal, aproveitem para deixar que seus cabelos digam como querem viver esses novos tempos! Agora já é a hora! Já é a hora de colocar em prática as mudanças possíveis.


Feliz Natal e um Ano Novo inusitado e inovador, com muito Amor e Paz interior!

Quando a vida bater forte
e sua alma sangrar,
quando esse mundo pesado
lhe ferir, lhe esmagar…
É hora do recomeço.
Recomece a LUTAR.

Quando tudo for escuro
e nada iluminar,
quando tudo for incerto
e você só duvidar…
É hora do recomeço.
Recomece a ACREDITAR.

Quando a estrada for longa
e seu corpo fraquejar,
quando não houver caminho
nem um lugar pra chegar…
É hora do recomeço.
Recomece a CAMINHAR.

Quando o mal for evidente
e o amor se ocultar,
quando o peito for vazio,
quando o abraço faltar…
É hora do recomeço.
Recomece a AMAR.

Quando você cair
e ninguém lhe aparar,
quando a força do que é ruim
conseguir lhe derrubar…
É hora do recomeço.
Recomece a LEVANTAR.

Quando a falta de esperança
decidir lhe açoitar,
se tudo que for real
for difícil suportar…
É hora do recomeço.
Recomece a SONHAR.

Enfim,

É preciso de um final
pra poder recomeçar,
como é preciso cair
pra poder se levantar.
Nem sempre engatar a ré
significa voltar.

Remarque aquele encontro,
reconquiste um amor,
reúna quem lhe quer bem,
reconforte um sofredor,
reanime quem tá triste
e reaprenda na dor.

Recomece, se refaça,
relembre o que foi bom,
reconstrua cada sonho,
redescubra algum dom,
reaprenda quando errar,
rebole quando dançar,
e se um dia, lá na frente,
a vida der uma ré,
recupere sua fé
e RECOMECE novamente.

Eu sou todas as contradições do mundo
Eu sou todas as perguntas sem respostas
E as respostas incompletas ou incoerentes
Às vezes, insanas!

Eu sou todas as mentiras e verdades
Depende do ponto de vista
Sou manipulações e, até mesmo, má intenções
Eu sou tudo e nada ao mesmo tempo
Depende de quanto cheia estou
Eu sou o Deus e o diabo
Sou o preto e o branco
Sou o bem travestido de maldade
Depende de que lado do muro estou

Sou a ventania e a brisa
Sou a chama e a fogueira
Sou o fogo que queima as heresias
E sou as cinzas da purificação
Depende de qual mão empunha o fogo
Sou o contraditório na essência da verdade
E sou a sombra iluminada de cada escuridão

Sou aquilo que todos procuram
E aquilo que nunca se encontra
Sou a quietude da insanidade
A doença da espontaneidade
Sou a cura do intangível
E o perdão à perplexidade
Sou a loucura inerente ao viver
E a autoridade que degrada o Ser

Sou a ida e a volta
Sou o ataque e o recuo
Sou a inquietude nas profundezas
A solitude nas inquietações
O silêncio nas interrogações
Sou a infinitude de mim mesma
Num coletivo individualizado
Que não cala, nem silencia
Num universo de averbações

Sou o finito no intuito
E o infinito em mim mesma
Sou aquilo que mesmo não sendo
É, por tentar não ser!

Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.

Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.

Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.

Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.

Sombra entediante
Insistente
Voraz, faz meu peito doer!
Apareça, sombra maldita
Para que te encares e te faça
Sofrer, do mesmo mal
Que minha alma chora!

Quem és tu, sombra sombria
Que tanto mal procedes
Em vão, arde e maltrata
Quem te carregas no colo
Sem este colo te falta
O único e desprendido amigo
O espelho onde te vês
O reflexo onde te escondes
Os limites donde transpassas

E mesmo transpassando,
Não transgrides o suficiente
Não se expõe e não se desnuda
Deixando minh’alma muda
Cravada de muitos espinhos
Paralisada e descrente!

Um carregador de água na Índia levava dois potes grandes, ambos pendurados em cada ponta de uma vara a qual ele carregava atravessada em seu pescoço. Um dos potes tinha uma rachadura, enquanto o outro era perfeito e sempre chegava cheio de água no fim da longa jornada entre o poço e a casa do chefe. O pote rachado chegava apenas pela metade. 

Foi assim por dois anos, diariamente, o carregador entregando um pote e meio de água na casa de seu chefe. Claro, o pote perfeito estava orgulhoso de suas realizações.  Porém, o pote rachado estava envergonhado de sua imperfeição, e sentindo-se miserável por ser capaz de realizar apenas a metade do que havia sido designado a fazer.  

Após perceber que por dois anos havia sido uma falha amarga, o pote falou para o homem um dia, à beira do poço:  

– Estou envergonhado, quero pedir-lhe desculpas. 

– Por quê?, perguntou o homem. – De que você está envergonhado?

– Nesses dois anos eu fui capaz de entregar apenas metade da minha carga, porque essa rachadura no meu lado faz com que a água vaze por todo o caminho da casa de seu senhor. Por causa do meu defeito, você tem que fazer todo esse trabalho, e não ganha o salário completo dos seus esforços, disse o pote. 

O homem ficou triste pela situação do velho pote, e com compaixão falou:

– Quando retornarmos para a casa do meu senhor, quero que percebas as flores ao longo do caminho.  

De fato, à medida que eles subiam a montanha, o velho pote rachado notou flores selvagens ao lado do caminho, e isto lhe deu ânimo. Mas ao fim da estrada, o pote ainda se sentia mal porque tinha vazado a metade, e de novo pediu desculpas ao homem por sua falha. Disse o homem ao pote: 

– Você notou que pelo caminho só havia flores no seu lado do caminho??? Notou ainda que a cada dia, enquanto voltávamos do poço, você as regava??? Por dois anos eu pude colher flores para ornamentar a mesa do meu senhor. Sem você ser do jeito que você é, ele não poderia ter essa beleza para dar graça à sua casa.

Sou como você me vê… posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar… suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato… tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras, sou irritável e firo facilmente. Também sou muito calma e perdoo logo.
Não esqueço nunca. Mas há poucas coisas de que eu me lembre… Tenho felicidade o bastante para ser doce, dificuldades para ser forte, tristeza para ser humana e esperança suficiente para ser feliz. Não me deem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre… Sou uma filha da natureza: quero pegar, sentir, tocar, ser.
E tudo isso já faz parte de um todo, de um mistério.
Sou uma só… Sou um ser… a única verdade é que vivo.
Sinceramente, eu vivo.

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? – me perguntarão.
– Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? – Tudo. Que desejas? – Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação…
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra…)

Quero solidão.

A lição (da vida) é sempre aquela que a gente não fez no dever de casa!
A gente tem que aprender, sempre, aquilo que não aprendeu. Se a gente aprendeu a gente não precisa fazer de novo, o dever de casa.
Mas, quando a gente acha que já aprendeu, tem sempre uma nova lição a ser aprendida.
E começa tudo outra vez!

Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas…

O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,

Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

Todo caminho da gente é resvaloso.
Mas também, cair não prejudica demais
A gente levanta, a gente sobe, a gente volta!…
O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim:
Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,
Sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria,
E ainda mais alegre no meio da tristeza…

De um prazo incerto
Entre a vida e a morte,
Vivemos, em uma existência,
O sonho profundo da outra.

No tempo longo
Da vida curta
A pequenez do homem
Beira à loucura
Mas, a grandeza da alma
Evolui e se perpetua.

No tempo em que o tempo envelhece
O homem supera a sim mesmo
O espírito prevalece
E renasce pra uma nova vida.

No tempo em que deus dá a vida
A vida torna-se única
O tempo é vida finita
E no amor, uma eterna existência!

No tempo curto
Que corta a vida
Entre antes e depois da morte,
No curto tempo
Que encurta a vida
A poucos anos antes da morte,
No tempo cego
O tempo costuma ser curto, injusto
Às vezes, elástico, prático
Pipoca como pipoca,
Gruda feito goma

De vez em quando,
Engatinha como um bebê
E quando corre
Ruge como um trovão!

O tempo ninguém segura,
Não pesca, nem sossega
Voa como um super-herói
Mas é instável como uma gota de orvalho

Com ele a gente briga
Mas, também, brinca feito bolinha de sabão
E avião de papel!
Às vezes, a gente se machuca
Como quando rala o joelho
E sangra o cotovelo

O tempo tira o fôlego
E embrulha o umbigo
Faz soltar água pelos olhos
Como também faz a cebola
Faz enrugar a pele
Como os riscos das águas dos rios
Faz a saudade apertar o coração
Mas serve de remédio
Como uma flor que encanta o jardim!

É um inimigo feito um dragão
Mas é, também, a mágica da varinha de condão!

É aquela imensidão que fica no peito
E mostra o tamanho do vazio!

Saudade
é um monte de pedacinhos de lembranças gostosas
que brincam de fazer cosquinhas dentro do nosso tórax.

Saudade
É quando dá vontade de fazer tudo de novo
Repetir cada minuto, cada sensação
E de novo e de novo e de novo…

Saudade
é quando parece que o tempo parou
e deixou carimbado no peito:
“- Este coração me pertence!”
assinado por alguém que foi embora
mas, deixou um fio invisível ligado na gente!

Saudade
É quando todos os momentos são gostosos,
mesmo os desgostosos!
Porque, quando se ama alguém,
de verdade, a gente sabe que nem sempre é fácil!
Tem que aprender a respeitar

o jeito, às vezes, torto, do outro ser.

Porque, afinal, nós também temos nosso jeito,
tantas vezes, desengonçado de ser.
Isso é convivência!
E tudo é aprendizagem!

E depois que rola a festa, a farra, a distração,
depois da reunião, a confusão e a satisfação,
a saudade cisma de querer ficar,
finca o pé, não vai embora
e abre todas as portas da emoção
Pra fazer a gente entender
Que saudade…
é Amor que fica no coração!

De um passo atrás do outro
A correr atrás do passo
De frente e de costas
Caminhando nas solas do sapato
Deslizando nas rodas do skate
Ou se deixando levar pelas rodas da cadeira


A vida que vem pela frente
Vai se transformando
Correndo e passando
E se vira, muda de lado
Deixando atrás de si
Os passos percorridos


Do novo ao velho
Do velho que volta ao novo
E de novo e novamente
De um passo atrás do outro
A correr atrás do passo


Um olhar, um respiro
Um suspiro e um sorriso
Um vendaval e um rodopio
Um por vir e um já foi
De mãos dadas
Encontrando almas
E de novo, o velho
De um passo atrás do outro
A correr atrás do passo


Enquanto olhamos para um lado e para o outro
Vivamos a dor e a delícia da travessia
Caminhando a cada instante
Com a (cons)ciência do (com)passo!